ATIVIDADE

Conceitos básicos e essenciais em Genealogia, uma ciência ao alcance de todos


• Marcelo Meira Amaral Bogaciovas
• Genealogia
• Vem do grego:
– genea= geração
– logos= escrita
Portanto: escrita ou registro das gerações
• Eu a considero uma ciência própria, e não uma ciência auxiliar da História.
• Há muito deixou de ser elitista
• A origem dos nomes próprios
• Desde sempre, as pessoas recebiam nomes, para serem facilmente identificadas e distinguidas.
• No mundo católico, adotou-se a prática de dar nomes aos filhos de santos católicos. Muitas vezes extraídos da data de nascimento dos mesmos.
• Origem dos Sobrenomes / Apelidos
Após o Concílio de Trento (1545-1563), com a obrigatoriedade de registro de assentos de batizados, casamentos e de óbitos, podemos inferir que procurou-se definir um sobrenome para cada família. Antes esse período, era comum usar apenas apelidos patronímicos. Assim: Antunes (filho de Antônio), Álvares ou Alves (de Álvaro), Rodrigues (de Rodrigo), Gomes (de Gomo), Fernandes (de Fernando ou Fernão), Gonçalves (de Gonçalo), Henriques (de Henrique), Martins (de Martim), Nunes (de Nuno), Pais (de Paio), Peres ou Pires (de Pêro), Bernardes (de Bernardo), Esteves (de Estêvão), Vasques ou Vaz (de Vasco), Teles (de Telo), Mendes (de Mendo), etc.
• Origem dos apelidos
• Patronímicos
• Senhores de algum lugar
• Toponímico (por ali terem nascido ou vivido)
• Por ofícios
• Características físicas e morais (alcunha)
• Escravos adotaram apelidos dos senhores
• A partir de 1492-14977, cristãos-novos adotaram apelidos dos padrinhos ao serem batizados, ou qualquer outro, inclusive restritos à nobreza.
• Formação do nome e apelido
• Até finais do século 19 não havia obrigatoriedade ou regra do uso de apelidos. A pessoa nascia apenas com o nome (o qual, inclusive, poderia ser alterado no crisma). O apelido era escolhido, aleatoriamente, durante sua vida e, por vezes, modificado ao seu bel-prazer.
• Em Portugal/ Brasil, no século 16, era comum o nome mais um apelido somente.
• Havendo homônimos no local, incorporavam-se outros apelidos.
• Em geral, utilizava-se o costume espanhol, que era o apelido do pai junto ao nome. No século 20 tornou-se prática comum utilizar o apelido do pai como último nome.
• Apenas em meados do século 19, adotou-se a prática de a mulher, ao se casar, adotar o apelido do marido (em geral o último). Influência da cultura francesa (também inglesa).
• Parentesco no Direito Canônico
• Número de gerações (grau) do tronco comum aos dois dos seus descendentes:
• Impedimentos consanguíneos no Direito Canônico Parentesco:
• Consanguíneo (natural): até o quarto grau.
• Espiritual (pelo batizado): entre o batizado e seus padrinhos.
• Legal (pela adoção). Banhos e Dispensas: Pela Bula de 1790: impedimento apenas no 1.o grau.
• Como pesquisar
• Procurar relatos de parentes e amigos dos pais, tios e avós e, eventualmente, bisavós e trisavós
• A tradição oral deve ser ouvida com cautela
• Estudar Paleografia
• Documentos básicos:
– Certidão de nascimento ou de batizado
– Certidão de casamento
– Certidão de óbito
– Testamento
– Inventário post mortem
– Informações colhidas em jornais e livros
• Como designar a fonte
• Deve-se sempre indicar o arquivo do qual se extraiu o documento, com citação do livro e folhas, de tal forma que qualquer pessoa possa, a posteriori, confrontar com o original. Não há espaço para designar fontes em árvores de costados; porém deve constar em árvores descritivas.
• Para fontes bibliográficas, recomenda-se acessar o menu Publicações >> Revista da Asbrap - Diretrizes >> Metodologia.
• Tratamento de Dom e Dona
• Dom, para homens:
– No mundo português: era uma graça real.
– No mundo espanhol: conferido aos homens bons. Em Portugal e no Brasil, houve aceitação plena – mas deve-se levar em conta que não tem o mesmo grau de importância do mundo português.
• Dona, para mulheres: – Em Portugal e Brasil: para filhas de homens bons. A partir do século 20, generalizou-se.
• Miscigenação
• Em Portugal: brancos com negros, mouros, asiáticos, etc..
• No Brasil: o elemento branco (Portugal e Espanha, em especial), com nativos (índios) e negros. A partir de meados do século 19, novas migrações, de diversas culturas.
• Exames de DNA apontam percentuais de origem étnica. Em especial, detalham as linhas patrilinear e matrilinear.
• Vaidade de não portar sangue ‘impuro’ aparece em habilitações ‘de genere’.
• Definição de Nobreza
Nobreza de sangue é a qualidade dos que satisfizessem os seguintes requisitos: a própria pessoa, seus pais e avós, tanto paternos como maternos, nunca terem exercido ofício mecânico, nenhum deles ter sido preso pelo Santo Ofício, nem tampouco ter cometido crimes de lesa-majestade. Haveriam ainda de ser cristãos-velhos, sem sangue de nenhuma infecta nação, como a de judeu, mouro, negro e gentio da terra (índios). Deveriam viver à lei da nobreza, o que significava ter criados, cavalos na estrebaria e ter exercido cargos eletivos de interesse para a coletividade, como governança, ordenanças ou milícias e irmandades religiosas. Também era enobrecedor ter parentes fundadores de capelas e contar com religiosos na família.
• Como enobrecer (Formação da Nobreza da Terra)
• Servir cargos da Governança, das Ordenanças e Milícias. Servir na Índia.
• Comendas de ordens militares (Cristo, Santiago e Avis). Em troca de serviços ou mesmo de doação de dinheiro para campanhas militares de Portugal.
• Brasão de armas dos apelidos no Cartório de Nobreza.
• Justificações de Nobreza (Feitos Findos).
• Justificações de ‘puritatis sanguinis’.
• Familiares aprovados nas ordens eclesiásticas, Leitura do Paço e para servirem ao Santo Ofício.
• Alvará real ou sentença da Igreja atestando que o interessado era pessoa nobre.
• A Inquisição e seus reflexos na Genealogia
• Formação do XN (cristão-novo) em Portugal em 1497.
• Instalação dos Tribunais do Santo Ofício (1536-1821).
• Visitação do Santo Ofício em vários períodos, em vários lugares.
• Rede de familiares e de comissários do Santo Ofício.
• Decreto real extinguindo XXNN (cristãos-novos) de XXVV (cristãos-velhos) - 1773.
• Primeiros historiadores tratando sobre o assunto no Brasil (Varnhagen,
• Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia e Paulo Prado).
• Documentação existente no Brasil, em auxílio à pesquisa genealógica
• Inventários e Testamentos
• Livros paroquiais (batizados, casamentos e óbitos)
• Banhos (dispensas matrimoniais)
• Genere et moribus
• Maços de população
• Cartas de sesmarias, patentes e provisões
• Registros de eleitores
• Registros militares
• Registros de chegada ao Brasil
• Principal documentação existente em Portugal, basicamente na Torre do Tombo
– Habilitação ao Santo Ofício
– Habilitação às Ordens Militares (Cristo, Avis e Santiago)
– Genere et moribus
– Registo de Testamentos
– Registo Geral de Mercês (mercês reais)
– Registo de Portarias do Reino
– Leitura de Bachareis
– Registos paroquiais do distrito de Lisboa
– Chancelarias
– Feitos Findos
– Legitimações
– Matrícula dos moradores da Casa Real
– Processos do Santo Ofício e Cadernos do Promotor
– Súmulas matrimoniais
• Documentação existente no exterior, exceto Torre do Tombo
• Em Portugal:
– Registos paroquiais espalhados em arquivos distritais
– Inventários e Testamentos
– Universidade de Coimbra (matrícula de estudantes)
– Livros cartoriais
– Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa)
• Em Espanha:
– Archivo Histórico Nacional, de Madrid
– Universidade de Salamanca (matrícula de estudantes)
– Archivo General de Indias, em Sevilha (migração)
METODOLOGIA PARA DESCRIÇÃO DE ASCENDENTES - Sistema Sosa-Stradonitz
– A árvore de costado descritivo dá sempre o n.º 1 à pessoa que se inicia a descrição de seus ascendentes.
– Os homens terão sempre números pares e as mulheres sempre números ímpares (à ex-ceção do n.º 1, que varia).
– Os pais do n.º 1 serão 2 e 3.
– Os avós paternos 4 e 5 e os maternos 6 e 7, etc.
– Para se conhecer os pais de um determinado número, multiplica-se por 2 para o pai e, e a este n.º encontrado adiciona-se 1 para a mãe.
– Exemplo: os pais do n.º 20 são 40 e 41.
– Para se conhecer o filho de determinado n.º faz-se operação inversa. Exemplo: o número 35 é mulher do n.º 34 e mãe do n.º 17.

• Metodologia para descrição de descendentes
• Sistema português
• Bibliografia básica
Sobre Portugal:
LIMA, Jacinto Leitão Manso de (* 1690- † 1753). Famílias de Portugal (cópia fiel do manuscrito original existente na Biblioteca Nacional de Lisboa- pu¬blicado de letras A a M), Lisboa: 1925 a 1931, 14 volumes.
GAYO, Manoel José da Costa Felgueiras (* 1750- † 1831). Nobiliário das Famílias de Portugal, em duas edições:
1ª- 1938 a 1942, Braga: Tip. Augusto Costa & Cia. Ltda., 17 volumes.
2ª- 1989 a 1990, Braga: Oficinas Gráficas de Barbosa & Xavier, Ltda. Edição Carvalhos de Basto, fac-similar da 1.ª, 12 volumes.
NORONHA, Henrique Henriques de (* 16??- † 1730). Nobiliário da Ilha da Madeira, publicado pelo Instituto Genealógico Brasileiro. In BGL/IGB, São Paulo: 1948, 3 volumes, composta em 1700.
SOARES, Eduardo de Campos de Castro de Azevedo (CARCAVELLOS), Nobiliário da Ilha Terceira. 3 volumes, Porto: Fernando Machado & Cia., 1944.
MORAES, Cristóvão Alão de (* 1632- † 1693). Pedatura Lusitana- Hispânica (Nobiliário de Famílias de Portugal), Porto: Livraria Fernando Machado, 1943 a 1948, 12 volumes, composta de 1667 a 1690.
• Ainda Bibliografia básica sobre Portugal
• AMARAL, Luís. Livros das Portarias do Reino. 5v.
• MENDES, António Ornellas e FORJAZ, Jorge. Genealogias da Ilha Terceira. 10 v.
• FORJAZ, Jorge e MENDES, António Ornellas. Genealogias das Quatro Ilhas – Faial – Pico – Flores – Corvo. 4 v.
• BORREGO, Nuno. Habilitações nas Ordens Militares. 4 v.
• RODRIGUES, Rodrigo. Genealogias de São Miguel e Santa Maria. 6 v.
• Diversos autores- publicação do Laboratório de Estudos Judaicos: Judeus da Guarda, Arraiolos, Trancoso, Lamego, Castelo de Vide e de Montemor-o-Novo. Em preparo: Judeus de Vila Nova de Foz Côa e Os Navarros de Lagoaça.
Sobre o Rio de Janeiro
• Brasil Genealógico- Revista do Colégio Brasileiro de Genealogia.
• RHEINGANTZ, Carlos G. (* 1915- † 1988). Primeiras Famílias do Rio de Ja-neiro (Séculos XVI e XVII), Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1967-1995, 3 volumes.
• MACEDO SOARES, Antônio Joaquim de. Nobiliarquia Fluminense ou Genealogia das Principais e Mais Antigas Famílias da Corte e da Província do Rio de Janeiro. Edição ampliada e publicada por seu filho, o desembargador Julião Rangel de Macedo Soares. 2 volumes. Niterói: Imprensa Estadual do Rio de Janeiro, 1947.
• Institutos genealógicos no Brasil
Em São Paulo:
Instituto de Estudos Genealógicos, entidade fundada em princípios da década de 30. Publicou 8 revistas entre 1937 e 1939.
Instituto Genealógico Brasileiro, fundado em 1939, que publicou, nos áureos tempos do Coronel Moya, falecido em 1973, 115 volumes.
ASBRAP, Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, fundada em 1993, tendo publicado 20 volumes impressos e 5 eletrônicos até o momento.
• Outros Institutos genealógicos no Brasil
• Fundado em 1945: Instituto Genealógico da Bahia.
• Fundado em 1950: Colégio Brasileiro de Genealogia.
• Fundado em 1954: Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba.
• Fundado em 1985: Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul.
• Fundado em 2006: Instituto de Genealogia de Santa Catarina.
• Outras instituições: Instituto Histórico e Genealógico Norte Fluminense e, no Espírito Santo, edita-se a Revista Capixaba de Genealogia.
• Institutos Genealógicos em Portugal
• Fundada em 1987: Associação Portuguesa de Genealogia, tendo
• publicado, até o momento, 33 revistas: Raízes e Memórias. Fundado em 1929: Instituto Português de Heráldica, que edita a revista Armas e Troféus.
• O paulista quatrocentão
A arrogância dos paulistas atravessava fronteiras e já se fazia notar em meados do século XVIII em Portugal. Assim, em “Teatro Novo”, comédia encenada em 22 de janeiro de 1766 em Lisboa, do poeta e teatrólogo português Pedro Antônio Joaquim Corrêa Garção, glosando a presunção desses luso-brasileiros, fez um dos seus personagens declamar (teria sido uma referência a Pedro Taques, que frequentava a casa da família de Matias Aires no atual Museu Nacional de Belas Artes?):

Que podem parecer-me tais loucuras
Estou tonto de ouvir estes senhores!
Parece-me que estou entre Paulistas
Que, arrotando congonha, me aturdiam.
Co’a fabulosa ilustre descendência
De seus avós, que de cá foram
Em jaleco e ceroulas



publicado em 25-09-2018
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